quarta-feira, 21 de abril de 2010

Leite e Lágrimas

 

Esta semana encarei o triste drama da mãe que trabalha fora. Embora eu não seja mãe de primeira viagem, quando Matheus nasceu, em 1998, eu era professora, tinha horários mais flexíveis e trabalhava perto de casa, então era fácil dar uma fugidinha para vê-lo no meio do dia.

Agora, aos 35 anos, tendo experimentado a maternidade na maturidade, tendo curtindo intensamente a amamentação exclusiva, me vi frente à necessidade de retornar ao trabalho em tempo integral.

trabalho

Graças a Deus, minha princesa vai ficar bem, pois estará cuidada pelo pai, que trabalha em casa, pela minha cunhada e pela minha sogra, que são minhas vizinhas de rua.

Na hora de sair, levamos ela para a casa da vó, eu dei beijo na cabecinha e um cheiro, ela ria, não desconfiava de nada… saí e entramos no carro eu e meu marido, que me leva sempre até o ponto do transporte… em silêncio, eu tentava controlar as lágrimas, que teimavam em rolar… meu marido viu e segurou minha mão, em solidariedade… pude perceber que ele também tinha um nó na garganta…

Ela sentiu muita falta no primeiro dia, terça-feira passada (20/04/2010). Meu marido disse que ela nem tirou as sonecas costumeiras, ficou chorosa, sentindo falta da mamãe… ficou “jururu”, como diz minha sogra… eu, do lado de lá, também parecia aérea, todos no trabalho à minha volta, me dando boas vindas, querendo saber novidades da princesa, querendo me atualizar sobre o que mudou no serviço, nas rotinas de trabalho, e eu sem conseguir me concentrar, a cabeça longe, em casa, e os seios cheios de leite, vazando…

Hora de extrair o leite, contei com a ajuda de uma colega, que conseguiu uma extensão para mim, pois o banheiro, único lugar com privacidade, não tem tomada para minha bomba elétrica. Realmente banheiro não é o lugar ideal para isso, pois é um ambiente contaminado. No entanto, mantive os potinhos fechados até a hora de fazer a transferência do leite do recipiente, para minimizar os riscos. Tirei um potinho e meio de leite… e precisei novamente conter as lágrimas.

Guardei os potinhos na geladeira – tipo um frigobar – da minha chefe: meio “mico” entrar na sala dela com dois potes de leite, mas ela foi super compreensiva.

Eu amo o meu trabalho e todos que me conhecem sabem disso… mas a maternidade e a licença mexeram comigo, não sou mais a mesma… embora vá enfrentar os mesmos dilemas de toda mãe que trabalha: faltar ao trabalho nos dias do pediatra? quem vai levar? criança doente: faltar ao trabalho?

Infelizmente a sociedade não é organizada de uma forma que a mulher possa estar com os filhos mais tempo, como por exemplo, nos dois primeiros anos, em que a OMS recomenda a amamentação (seis meses de amamentação exclusiva, e depois mais um ano e seis meses de amamentação prolongada). Atualmente, em geral,  para que a família possa ter uma existência digna ambos os cônjuges precisam trabalhar fora. Há exceções – conheço mulheres que podem exercer a opção de serem mães em tempo integral – como têm sorte !

Quando sair para trabalhar, todos os dias, irei com o coração partido, com lágrimas nos olhos, com o peito cheio de leite e tristeza. Contarei os minutos para estar de novo com minha princesa… serei recebida com um lindo sorriso banguela, com gritinhos e risadinhas… e então darei aconchego em um abraço, enquanto bracinhos afobados puxam minha blusa procurando o “mamá”…

Ser mamãe e ser “mamá” se confundem na minha rotina de leite e lágrimas.

Publicado originalmente em meu blog pessoal: CHEZ MAITE

2 comentários:

Fabrício L. Ribeiro disse...

Tocante, querida Maitê. É possível sentir um pouquinho da tua angústia lendo este post.

Principalmente nós, cristãos, precisamos ter idéias e propor leis de iniciativa popular (porque se formos depender de nossos legisladores é melhor esperarmos sentados) que favoreçam a autonomia profissional das mulheres, sem prejudicá-las em sua missão que considero mais nobre, a da maternidade.

Paz e Bem!

ViviS disse...

Bah, posso dizer que é quase o meu espelho... pra minha sorte, trabalho só em um turno (tarde), e fiz adaptação da Bianca na escolinha 2 semanas antes de retornar ao trabalho. Na realidade a adaptação foi mais minha, de estar longe dela(risos...).Dou mamá antes de ir trabalhar, ela ganha 1 mamá (ou 2, quando necessário) na escolinha dela, e como dividi minhas 16h nos 5 dias da semana, sempre consigo dar 1 mamá antes que o leite molhe muito minha blusa. Como ela tem 4 meses, ganhei o benefício do horário amamentação, e em acordo preferi sair 30min mais cedo do trabalho pra poder amamentar minha princesinha.
Que Nossa Senhora nos ajude nessa missão e abençoe nossas filhinhas!

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